o corpo sabe o faz. há séculos e séculos que ele se tem vindo a adaptar às novas circunstâncias da vida do Homem. demora o seu tempo, mas tem vindo a fazer progressos de forma a acompanhar as nossas descobertas e invenções de novas máquinas que facilitem a nossa vivência a cada dia. mas esquecemo-nos de como o nosso corpo também é um máquina e uma máquina especial, que tem vontades e ritmos próprios que não podemos simplesmente alterar para se ajustar aos nossos desejos e facilitismos. desde sempre que o nosso corpo se encontra sincronizado com os ritmos da natureza, ainda que neste momento escolhermos retirar esse pormenor da equação… estamos a viver de costas voltadas para o nosso próprio corpo. já não o ouvimos nem respeitamos. exigimos dele mais do que algum dia deveríamos ter sonhado exigir. ainda assim, o corpo faz de tudo para não nos falhar, faz de tudo para acompanhar o nosso ritmo alucinado e, acima de tudo, vai sendo cada vez mais criativo a dar-nos sinais do seu limite. mas nós teimamos em ignorar e a desenvolver novas formas de contornar os erros que criámos no nosso próprio corpo.
um dos fatores que mais influencia a nossa vida, e o nosso corpo, é o stresse. deixamo-nos levar pela dessincronização dos rimos biológicos e vivemos escravos do tempo, dos objetivos, das carreiras, da família - do stresse. o nosso corpo já não sabe como viver sem estar em ação, sem estar entretido. o nosso corpo já não sabe estar parado, porque parar poderá constituir uma ameaça. mas o corpo ressente-se e, mais cedo ou mais tarde, sentirá as consequências desta nova forma de vida. surgem novas doenças, doenças que ninguém entende, doenças que se sabe o causador. e se o causador formos nós? será bem mais fácil culpar um vírus, uma batéria, mas e tudo aquilo que obrigámos o nosso corpo a fazer? todo o jogo de cintura que teve de ter para nos acompanhar? algum dia a sua plasticidade tinha de terminar e algo teria de ser afetado - e afetou-se a si, aos seus órgãos e ao seu funcionamento. surgem os cancros, as doenças autoimunes, a epilepsia, as doenças renais, etc., etc.
não sei onde vamos chegar com o ritmo de vida do século XXI, só sei que as próximas gerações vão sofrer com as mutações que tivemos de criar para sobreviver e com as invenções que trouxemos ao mundo para lhes facilitar a vida. não há facilitismos sem custos, não é?