somos aquilo que somos hoje, porque tivemos determinadas bases asseguradas e garantidas na nossa vida que nos permitiram ir mais além, valorizar determinadas coisas, ter determinadas necessidades.na pirâmide de Maslow, as nossas necessidades básicas estiveram sempre (para a maioria) asseguradas e, agora, mais do que nunca estão em risco. agora aquilo que dávamos como adquirido perdemos, de repente, num abrir de fechar de olhos. tivemos de deixar de negar a situação e envolvermo-nos nela. agora vivemos tempos de adaptação, tempos em que temos de voltar a ajustar as nossas necessidades e expetativas. mas não sejamos ingénuos, custa, custa muito ter de abdicar da nossa liberdade de circulação, da nossa "liberdade relacional". custa ter de engolir em seco quando acaba a chamada no WhatsApp, e o que mais queríamos era uma abraço de despedida. custa ter de apreciar o sol da varanda e o cheiro da relva da janela. custa a temática à nossa voltar ser sempre mesma: os infetados, ...
torna-se cada vez mais essencial que fiquemos todos em isolamento em casa, para bem de nós, dos nossos e da saúde pública. é por estes dias que apelamos ao cessar fogo do egoísmo, à proliferação da união, à ação em massa para que juntos possamos dizer que #vaificartudobem. pelo meio de agachamentos profundos, bolos caseiros meio queimadas e house parties cheias, passa-nos ao lado que o isolamento em casa não é uma situação confortável para todos. esquecemo-nos de todos aqueles que nem sequer têm casa e que são obrigados a recorrer a recursos nunca antes pensados; que dependem de voluntários, para ter comida e corpo lavado, mas que também eles estão demasiado assustados para os ajudar. esquecemo-nos daqueles que têm casa, mas que não é sua; aqueles que partilham na velhice sala com outros e que, nestes dias, apesar de rodeados por pessoas, se sentem cada vez mais sozinhos, sem os seus. esquecemo-nos daqueles que vivem num ambiente familiar hostil, onde dias e dias em cativeiro...