hoje vi a vida dos adultos na brincadeira de uma criança de 4 anos diria.
a pequena criança italiana brincava à beira mar com a supervisão do seu pai. a sua brincadeira era simples mas parecia entusiasma-lá imenso. consistia então em sentar o seu Ken (sim parece que a miudagem de hoje ainda brinca com estas antiguidades) à beira-mar. parecia no entanto calcular bem o momento, escolhia o melhor lugar, aguardava pela onda para o pousar e fugia de medo assim que ela se aproximava e o levava. no meio da excitação, observava o pobre coitado a mergulhar (ou afogar) no mar, a ser levado para longe e depois trazido de volta pela próxima onda. mas rapidamente a brincadeira deixou de ser suficiente e precisámos, obviamente, de subir a parada. agora em vez de senta-lo no areal, a menina atirava-o vezes e vezes sem conta em direcção ao alto mar, sem dó nem piedade. quando a rebentação a surpreendia e afastava ainda mais o seu Ken, ela não parecia preocupada. entre rebentações acabava por perder o foco e concentrava-se em algo novo que surgia no seu campo de visão, quer seja uma bola a passar, uma nova rebentação, uma pessoa mais alta... tudo parecia ser suficiente para se distrair do KEN. nestes momentos havia sempre uma alma caridosa que se aprecebia que o KEN se afastava e resgatavam-no pensando, inocentemente, que a pobre criança devia estar em sofrimento. sem expressão, a menina aceitava e voltava a lançá-lo ao mar e a entreter-se com ele mais um pouco. quando finalmente se aborreceu de vez, deixou-o subir à tona e não lhe tocou mais... mas quando alguém mostrava interesse nele (como foi o meu caso e mais uns tantos que decidiram fotografar este belo modelo), caía o cabo e a trindade... uma menina de 4 anos tornava-se num pequeno monstro das bolachas possuído.
tudo isto me fez pensar. uma menina de 4 anos parecia-me retratar perfeitamente a realidade dos adultos. então eis a moral que me passou pela cabeça na legenda desta curta-metragem a que assisti:
a vida tem o dom de nos presentear com inúmeras oportunidades que nós teimamos em não aproveitar. primeiro duvidamos que aquela oportunidade possa ser para nós, "demasiado boa" avisa a nossa mente. teimamos em achar que as coisas boas só acontecem ao vizinho... quando as vemos, duvidamos se não é armadilha. depois desafiamos o seu sentido, testamos e arranjamos mil desculpas para não a agarramos. mostramos a criatividade da nossa espécie nestes momentos. afastamo-nos com medo, fugimos do achamos que tem tudo para ser bom. parece que estamos habituados a aceitar o mau e a negar o bom. não devia ser ao contrário? chegamos mesmo a ser agressivos e mal agradecidos pela oportunidade que nos apresentam.d istraimo-nos muitas vezes do foco e concentramo-nos no ruído que nos rodeia, tentando esquecer que estamos a ser burros e a sabotarmo-nos a nós próprios. ainda temos a (in)decência de ser ingratos, quando nos tentam relembrar do privilégio de a termos na nossa vida e nós, bem mandados, acenamos que sim mas continuamos na nossa. quando tudo parece que se encaminha e que estamos decididos a não tomar uma decisão, alguém aparece e ousa pensar em roubar algo que, ainda assim, sentimos como nosso. uii, aí viramos o mundo do avesso para deixar bem claro para todos da nossa possível futura posse.
concluo que somos sem dúvida seres extraordinariamente contraditórios e complicados... aparentemente não tanto como achava porque uma criança de 4 anos foi capaz de descrever tão bem este modo "adulto" na sua brincadeira!